Talvez fosse motivo de comemoração, afinal, recebemos o primeiro depoimento... Mas não é.
Saber que alguém passou por uma situação de desespero e completo pânico, que nenhum simples “Vai passar...” era capaz de aliviar ou fazê-lo sentir-se melhor, é aterrador, e traz um sentimento de impotência para quem, através de uma tela de computador, expõe sua história por um blog... Só agora, depois de o presente ter se tornado passado, e o pavor ter dado lugar ao consolo de que o provocador de todo aquele sentimento já se foi, este “Anônimo” conseguiu se manifestar, contar como é a experiência de alguém que sofreu bullying...
Uma agulha não acabaria com esse tipo de violência... Um desejo de morte também não... mas a verdade, exposta, nua, é capaz de romper o tapa-olhos da pressuposta insignificância do bullying.
“Vai passar...” não resolve o problema, muito menos ficar calado...
(O depoimento a seguir sofreu algumas alterações, nada relacionadas aos fatos contados pelo autor do mesmo)
Era o começo de um novo ano e estava com pensamentos positivos, afinal quem seriam meus novos colegas? Meus professores? Minha vida a partir daquele ano?! O que eu não sabia era que este ano seria: “The worstest year I ever had – O pior ano que já tive”.
Não sei como explicar, mas meu corpo estava mudando (acho que eram os hormônios fluindo). Eu não parava de engordar e minha voz estava horrível, além de ser super fanha. Bom, tinha um aluno na sala que adorava aparecer. Eu achava ridículo tudo aquilo, pois sempre pensei que quanto mais discreto formos, mais seremos notados. Acredito que ele percebeu que eu não gostava de suas gracinhas e começou a me implicar. Foram 200 dias sofrendo “zoações” daquele ser i*****, que não parava de me atingir. Como minha voz era esquisita, ele ficava me chamando de gay e tudo mais. Eu não gostava daquilo, era vergonhoso, uma sensação ruim.
Não falava nada para meus pais, intencionado a evitar confusões. Meu desejo de matá-lo era enorme. Certo dia, na aula de ciências, a professora disse que possuímos uma glândula acima da nuca que se enfiássemos uma agulha, conseguiríamos matar uma pessoa. Fiquei com esta idéia na cabeça por muito tempo, até que decidi colocá-la em prática. Meu ódio era tão grande que nem havia pensado nas conseqüências. Bateu o sinal para o recreio e lá saiu ele todo sorridente e eu bem atrás pensando “É hoje Moleque!”. No caminho, quando estava prestes a enfiar a agulha, um menino que eu nunca vira antes me perguntou se sabia algo sobre citologia, afinal eu tinha uma cara de nerd e era uns dos que possuía melhores notas em Ciências. A cara do menino era tão humilde que decidi ajudá-lo. Aos poucos nos tornamos amigos, e meu desejo de matar o tal d’O Moleque da minha sala foi-se perdendo.
Nunca vou perdoar o que o aluno daquela sala de aula fez. Acredito que devemos respeitar todos aqueles que estão ao nosso redor, porque eles nasceram assim!