domingo, 19 de junho de 2011

Anônimo #1

Postado e revisado por: Fernando H.



                 Talvez fosse motivo de comemoração, afinal, recebemos o primeiro depoimento... Mas não é.
            Saber que alguém passou por uma situação de desespero e completo pânico, que nenhum simples “Vai passar...” era capaz de aliviar ou fazê-lo sentir-se melhor, é aterrador, e traz um sentimento de impotência para quem, através de uma tela de computador, expõe sua história por um blog... Só agora, depois de o presente ter se tornado passado, e o pavor ter dado lugar ao consolo de que o provocador de todo aquele sentimento já se foi, este “Anônimo” conseguiu se manifestar, contar como é a experiência de alguém que sofreu bullying...
            Uma agulha não acabaria com esse tipo de violência... Um desejo de morte também não... mas a verdade, exposta, nua, é capaz de romper o tapa-olhos da pressuposta insignificância do bullying.  
            “Vai passar...” não resolve o problema, muito menos ficar calado...
            (O depoimento a seguir sofreu algumas alterações, nada relacionadas aos fatos contados pelo autor do mesmo)

Era o começo de um novo ano e estava com pensamentos positivos, afinal quem seriam meus novos colegas? Meus professores? Minha vida a partir daquele ano?! O que eu não sabia era que este ano seria: “The worstest year I ever had – O pior ano que já tive”.
Não sei como explicar, mas meu corpo estava mudando (acho que eram os hormônios fluindo). Eu não parava de engordar e minha voz estava horrível, além de ser super fanha. Bom, tinha um aluno na sala que adorava aparecer. Eu achava ridículo tudo aquilo, pois sempre pensei que quanto mais discreto formos, mais seremos notados. Acredito que ele percebeu que eu não gostava de suas gracinhas e começou a me implicar. Foram 200 dias sofrendo “zoações” daquele ser i*****, que não parava de me atingir. Como minha voz era esquisita, ele ficava me chamando de gay e tudo mais. Eu não gostava daquilo, era vergonhoso, uma sensação ruim.
Não falava nada para meus pais, intencionado a evitar confusões. Meu desejo de matá-lo era enorme. Certo dia, na aula de ciências, a professora disse que possuímos uma glândula acima da nuca que se enfiássemos uma agulha, conseguiríamos matar uma pessoa. Fiquei com esta idéia na cabeça por muito tempo, até que decidi colocá-la em prática. Meu ódio era tão grande que nem havia pensado nas conseqüências. Bateu o sinal para o recreio e lá saiu ele todo sorridente e eu bem atrás pensando “É hoje Moleque!”. No caminho, quando estava prestes a enfiar a agulha, um menino que eu nunca vira antes me perguntou se sabia algo sobre citologia, afinal eu tinha uma cara de nerd e era uns dos que possuía melhores notas em Ciências. A cara do menino era tão humilde que decidi ajudá-lo. Aos poucos nos tornamos amigos, e meu desejo de matar o tal d’O Moleque da minha sala foi-se perdendo.
Nunca vou perdoar o que o aluno daquela sala de aula fez. Acredito que devemos respeitar todos aqueles que estão ao nosso redor, porque eles nasceram assim!
           

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Divulgando o "ALL BuLLied"

Por: Fernando H.


Foi hoje a apresentação do Trabalho de Inglês...
Exibimos um vídeo para nossa sala e contamos para a professora sobre o blog – sim, até aquele momento ela não sabia de nada... Surpresa! Depois perguntamos se poderíamos divulgá-lo para as outras turmas... claro, depois de pedir a permissão da coordenadora.
 Uma breve persuasão aqui, um rostinho triste de “por favor, por favor...” dali, e pronto, já caminhávamos pelo corredor – eu, Lorena e Giovanna –, rumo a primeira turma, que era o... primeiro ano = medo. Não sabíamos qual seria a reação... Particularmente, eu estava com um pressentimento de que seríamos apedrejados, e teríamos um tantinho bom de escoriações cutâneas. Ao menos, tentando procurar algum ponto positivo naquele momento, veio à minha cabeça o título adequado para a postagem de sexta feira: Como sofrer bullying, tentando evitá-lo.
Batemos na porta. Ameaçamos carinhosamente a professora – brincadeirinha! – e adentramos a sala elegantemente. Foi aí que o pandemônio se instaurou... dentro de mim; porque, por incrível que pareça, todos aceitaram de forma tão positiva aqueles idiotas que falavam lá na frente, com as pernas bambas, daquela sala na qual é necessário um microfone para que todos os alunos fossem capazes de ouvir – juro que é verdade.
Como dizia meu colega, “mais um tororó” de salas foram invadidas... Vimos muitos alunos com lápis em mãos, riscarem o papel, anotando o endereço do blog. Isso nos trouxe uma autoconfiança que no decorrer das salas nas quais entrávamos, falávamos com mais facilidade... um estágio de gagueira não tão crônico.
Terminamos com euforia a nossa divulgação do “ALL BuLLied”. Desejando que aquela não fosse a última turma para visitarmos... mas era.



quinta-feira, 16 de junho de 2011

Por que o Blog?

“Uma pesquisa da Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência (Abrapia) revela que 41,6% das vítimas nunca procuraram ajuda ou falaram sobre o problema, nem mesmo com os colegas. 
As vítimas chegam a concordar com a agressão, de acordo com Luciene Tognetta, doutora em Psicologia Escolar e pesquisadora da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinhas (Unicamp). O discurso deles segue no seguinte sentido: ‘Se sou gorda, por que vou dizer o contrário?’”.
Este é um dos dados que nos encorajou para a criação deste blog. Por que ficar calado? Por que consentir? Não! Não para o silêncio! NÃO PARA O BULLYING!
Tudo começou como um simples trabalho de inglês... Primeiramente, assistimos ao filme “Escritores da Liberdade” (se estiverem interessados, aí vai uma resenha: http://www.recantodasletras.com.br/resenhasdefilmes/1173723) que trata sobre inúmeras questões sociais, dentre elas, o Bullying. 
“Quais são as possíveis soluções para este problema?” indagou-nos a professora. Qual a nossa contribuição para resolver este problema?
Eis que surge a idéia do blog... Que nos servirá para expor como é sofrer bullying, praticar bullying, consentir com o bullying, tudo pela visão de quem convive com isso diariamente... de forma direta ou indireta. Estamos aqui para denunciar essa situação; contudo, só poderemos realizar de forma eficaz, com a ajuda de vocês, caros leitores. Pedimos para que rompam o silêncio, delatem, façamos barulho... E possamos alegar em alto e bom tom “We are ALL BuLLied... Todos nós somos BuLLied!”. Não é nossa intenção pronunciar essa afirmação com orgulho... mas sim com união, e com desejo de melhora.
Enviem seus depoimentos para: allbullied@gmail.com. Se não quiserem ser identificados, manifestem seu desejo no e-mail, e a postagem será designada “Anônimo”. Ao nos enviar seu testemunho, você automaticamente está nos autorizando a divulgá-lo.
“A situação só não melhora, se somos covardes o suficiente para ignorá-la”.

Equipe: Ana C., Fernando, Giovanna, Lorena, Mayara, Rafael e Talwanny.

Bullying...

Bullying é um termo da língua inglesa (bully = “valentão”) que se refere a todas as formas de atitudes agressivas, verbais ou físicas, intencionais e repetitivas, que ocorrem sem motivação evidente e são exercidas por um ou mais indivíduos, causando dor e angústia, com o objetivo de intimidar ou agredir outra pessoa sem ter a possibilidade ou capacidade de se defender, sendo realizadas dentro de uma relação desigual de forças ou poder.
É uma das formas de violência que mais cresce no mundo e pode ocorrer em qualquer contexto social, como escolas, universidades, famílias, vizinhança e locais de trabalho. O que, à primeira vista, pode parecer um simples apelido inofensivo pode afetar emocional e fisicamente o alvo da ofensa.
Além de um possível isolamento ou queda do rendimento escolar, crianças e adolescentes que passam por humilhações racistas, difamatórias ou separatistas podesm apresentar doenças psicossomáticas e sofrer de algum tipo de trauma que influencie traços da personalidade. Em alguns casos extremos, o bullying chega a afetar o estado emocional do jovem de tal maneira que ele opte por soluções trágicas, como o suicídio.
O que leva o autor do Bullying a praticá-lo? Querer ser mais popular, sentir-se poderoso e obter uma boa imagem de si mesmo. Isso tudo leva o autor do bullying a atingir o colega com repetidas humilhações ou depreciações. É uma pessoa que não aprendeu a transformar sua raiva em diálogo e para quem o sofrimento do outro não é motivo para ele deixar de agir. Pelo contrário, sente-se satisfeito com a opressão do agredido, supondo ou antecipando quão dolorosa será aquela crueldade vivida pela vítima. Normalmente praticado por jovens de classe média e alta. Jovens que têm tudo, pelo menos do ponto de vista material. Os que praticam o BULLYING têm grande probabilidade de se tornarem adultos com comportamentos anti-sociais e/ou violentos, podendo vir a adotar, inclusive, atitudes delinqüentes ou criminosas. Nós estamos num momento em que a adolescência, principalmente de classe média, vive um conflito muito grave sobre o que é certo ou errado. Existe uma dificuldade muito grande do adolescente de classe média, hoje, em identificar o que é, e o que não certo. Até onde ele pode ir e quando ele vai atropelar o direito de outra pessoa. Outra dificuldade em relação ao bullying diz respeito às escolas que ainda não sabem lidar com o assunto.
O autor não é assim apenas na escola. Normalmente ele tem uma relação familiar na qual tudo se resolve pela violência verbal ou física e ele reproduz isso no ambiente escolar.  Ele têm pouca empatia, pertence à famílias desestruturadas, em que o relacionamento afetivo entre seus membros tende a ser escasso ou precário.
Sozinha, a escola não consegue resolver o problema, mas é normalmente nesse ambiente que se demonstram os primeiros sinais de um praticante de bullying. A tendência é que ele seja assim por toda a vida, a menos que seja tratado.
Por outro lado, o alvo dos agressores geralmente são pessoas pouco sociáveis, com baixa capacidade de reação ou de fazer cessar os atos prejudiciais contra si e possuem forte sentimento de insegurança, o que os impede de solicitar ajuda.
Os atos de bullying ferem princípios constitucionais – respeito à dignidade da pessoa humana – e ferem o Código Civil, que determina que todo ato ilícito que cause dano a outrem gera o dever de indenizar. O responsável pelo ato de bullying pode também ser enquadrado no Código de Defesa do Consumidor, tendo em vista que as escolas prestam serviço aos consumidores e são responsáveis por atos de bullying que ocorram dentro do estabelecimento de ensino/trabalho.